Tuesday, February 21, 2012

A minha ida às Finanças em dia de Carnaval

(versão humorística e não piegas)

Dia de Carnaval, Repartição de Finanças às moscas. Cinco minutos de espera e o meu número está a apitar.
Sou atendida por um palhaço. Não é que não me apeteça chamar-lhe palhaço, mas este tinha mesmo caracóis azuis, nariz vermelho e laço às bolas envergado ao pescoço. Olhei em volta e vi vários, pelo que passei a estar no circo em primeira impressão. Pensei cá para mim... Estas pessoas têm humor! Ah, e tal, o Estado obriga-nos a trabalhar em pleno Entrudo, somos mesmo palhaços. Há humor nas Finanças. Sim, há. Que bom.

Segunda impressão: Não, não há humor. Quando estão dez palhaços dentro de uma repartição de Finanças, zangados e a reclamar uns com os outros, não há humor nem circo. Há um freak show, qualquer coisa sem sentido nenhum. Chega quase ao hilariante mas na verdade é deprimente e causa vergonha alheia. Para além disso, qualquer credibilidade que estes funcionários públicos possam ter, vai imediatamente pelo cano abaixo.

Terceira impressão: (E agora sim, começa o circo)

Eu - Fui notificada para pagar coisas, julgo que por engano. IRS 2009... Já verifiquei tudo e não encontro qualquer erro.
Palhaço constipado - Estou a perceber, deixe-me ver aqui no sistema. Isto está muito lento hoje...

A dar pelo número de cliques no rato, mesmo sem ver o monitor, aposto que o palhaço constipado estaria em simultâneo a jogar Solitário ou Mineswepper. Não sei o quão actualizado estará o Windows do Serviço público hoje em dia, por isso qualquer uma das duas hipóteses é válida. Continuando e longos minutos depois: 

Palhaço constipado: Ora bem, estou a identificar uma grande confusão. Realmente está tudo correcto nos seus documentos, embora o sistema diga o contrário. Terá de fazer uma reclamação. Tire a senha, primeiro andar.

Vivalma no primeiro andar, atendida em segundos.

Palhaça com cabeleira de banda - Então o que se passa é o seguinte: A senhora entregou a documentação correctamente, embora as empresas para quem trabalhou não o tenham feito. Está aqui um problemão.
Eu - Ah! E a multa sou eu que pago...
Palhaça com cabeleira de banda -Tem de ver no seu contrato com estas entidades o que lá está escrito.

(Silêncio prolongado)

Eu - Tenho aqui os meus recibos verdes.
Palhaça com cabeleira de banda - Sim. Mas nos seus contratos...
Eu - Repito. Tenho aqui os meus recibos verdes. Não há contrato...
Palhaça com cabeleira de banda - Pois... mas em 2009 os recibos verdes não estavam em sistema, não eram digitais, percebe?
Eu - Repito. Tenho aqui os meus recibos verdes. Tem fotocopiadora? Anexo à reclamação... Já me disse que estão bem preenchidos...
Palhaça com cabeleira de banda - Quer que lhe diga uma piada? Já excedi o meu limite de fotocópias hoje... mas eu tiro as cópias então...

Foi, portanto, um grande favor que a palhaça me fez. Tirar fotocópias em minha defesa.

Palhaça com cabeleira de banda - Bom, eu vou enviar esta documentação para a direcção. Mas se quer a minha opinião sincera, vai ter de acabar por pagar este valor... A não ser que consiga fazer com que estas 3 entidades alterem as declarações a seu respeito, porque realmente estão erradas. Só que o sistema não consegue ver o humano, só o número... (Isto sim, humor puro)
Eu - E considerando que uma destas três entidades já não exista? Fechou...
Palhaça com cabeleira de banda - Pois...
Eu - Tenho os recibos correctamente preenchidos e entregues e aqui está a prova. Não faria mais sentido serem as entidades a pagar esta diferença, dado que o erro foi delas?
Palhaça com cabeleira de banda - Está dizer-me que uma delas já nem existe!
Eu - (Silêncio prolongado)

Amanhã estou agendada com o palhaço-mor, vulgo sr. director da repartição. Que sorte.
Sinto um vazio ao equacionar comentar isto. Não consigo começar por ponta nenhuma.

A ver vamos...

Thursday, February 2, 2012

Ainda-está-agarrada-ao-pescoço #25

Como ser (quase) notícia de capa de revista em meia dúzia de horas, step by step.

Não será necessário juntar-se a qualquer evento do jet set. Os modelitos são caríssimos, make up e cabelos uma carga de trabalhos e o assunto de conversa tem de ser estudado dias antes. A grande novidade é que para se ser (quase) notícia basta trabalhar numa estação de televisão. Muito mais simples, não?
Depois, basta seguir os passos seguintes:

1. Arranje-se para um dia normal de trabalho, sem nenhum adereço extra para não chamar a atenção dos seus colegas. Entre com o pé direito e ar sereno.

2. Leve consigo um maço com poucos cigarros e assim que possível, faça com que os seus colegas se apercebam da situação, avisando discretamente quando pegar no último. Pode exclamar algo do género: "Oh! Tenho de ir comprar tabaco". Não se alongue muito nesta fase do processo pois pode levantar suspeitas.

3. Vá comprar cigarros com várias coisas na mão. Para que não pareça propositado, despenteie um pouco o cabelo e mantenha a sua secretária muito desarrumada, cheia de papelada por tratar. Depois, pegue numa "mancheia" de coisas e saia.
Aproxime-se da máquina de tabaco e coloque-lhe a dita mancheia em cima. Pegue no desbloqueador. Insira as moedas, retire o produto desejado e traga tudo de volta para a sua secretária, desbloqueador incluído. Atenção: Nesta fase não olhe para os lados e se alguém parar para conversar, deixe-se ficar apenas em breve cavaqueira. Não exagere pois pode deitar tudo a perder, caso apareça um novo cliente.

4. De volta à sua secretária, coloque tudo em cima da mesma, sem considerar qualquer tipo de organização visual. Assim passará despercebida.
5. O pior já passou. Sente-se agora confortavelmente e aguarde. Durante a hora seguinte ninguém irá conseguir adquirir cigarros na estação de televisão. Duas horas depois, a falta de nicotina fará com que alguém chame a segurança do edifício para resolver o sucedido. A segurança irá imediatamente inquirir transeuntes, ao deparar-se com um furto de tal calibre. Não chegará, obviamente, a conclusão nenhuma ficando apenas com uma solução de último recurso: a videovigilância. Estes indivíduos adoram acção e acontecimentos do género, portanto não é difícil. Para além do mais, isto vai fazer com que entre na terceira hora da ocorrência e que os ânimos se exaltem um pouco mais.

6. Quatro horas (e muitos rewind) depois da ocorrência, a segurança vai identificá-la nas imagens. É hora de se mostrar ocupada. Rodeie-se de telefones a tocar e despenteie-se novamente, mantendo sempre um ar despistado.
Nota: Normalmente nestes casos de extrema importância, será o responsável da segurança a assumir o comando. Não se deixe intimidar. Estas pessoas estão habituadas a todo o tipo de delinquentes e ao mínimo deslize, será desmascarada.

7. Encontrado o desbloqueador em cima da sua secretária, dá-se o flagrante. Não terá forma de negar o sucedido, muito menos de evitar olhares de terceiros e quartos. A acusação é grave, há que ter sangue frio. A sua deixa é: "Oh! Como é que esse objecto veio parar à minha secretária?" "Oh! Mas foi há muitas horas! Como é possível? Como me identificaram? Que grande trabalheira", ou algo similar, desde que diga muitos "oh" em cada frase. Limite-se a ficar surpreendia e esforce-se por corar. Até porque nunca lhe passou pela cabeça deixar uma estação inteira sem fumar durante horas... Longe de si! Lamente o sucedido e ria (nunca descontroladamente).

8.  Em seguida, faça com que um ou outro colega espalhe pelas redes sociais algo como: "Confirma-se. A videovigilância na estação de televisão tal tal funciona, mais uma marginal apanhada em flagrante", e incite os restantes a comentar, ironicamente, qualquer outra coisa como: "Vi-a sair algemada, uma vergonha". Basta portanto que crie uma pequena brincadeira entre colegas.

9. Deixe passar aproximadamente 30 minutos e a imprensa entrará em contacto com os responsáveis do seu local da trabalho, na tentativa de apurar quem terá sido afinal algemado e que tipo de assalto terá sucedido. Just like that. 

Está portanto, aqui explicada a receita para a quase notícia. Porém, faça cuidado para não brincar às pêjotas no dia seguinte.

Legenda: Pelo sim, pelo não, vamos tratar da ocorrência em condições, para que não se repita. (Sim, é uma guita à serviço público)


Qualquer semelhança com a realidade, é pura coincidência.