Tuesday, January 31, 2012

Ainda-está-agarrada-ao-pescoço #24

As olheiras do outro.

Acordar é provavelmente a tarefa mais árdua que faz na vida. (Continuo a não achar que "tarefa árdua" seja a melhor forma de o descrever, mas não me quis dar ao trabalho de descobrir o nome da patologia em questão). O mesmo se comprova pela observação cronológica e pormenorizada dos factos: ao longo dos anos, o uso de diferentes equipamentos (mais ou menos) tecnológicos, não conseguiu mais do que um caixote cheio de parafernália escondido na arrecadação. Recentemente e seguindo uma filosofia baseada na estratégia "tentativa-erro", acaba por encontrar uma solução eficaz. Estatisticamente falando, claro. Esta passa apenas por garantir que nada é alterado nas variáveis abaixo indicadas:

1. Dispôr de um despertador com coluna considerável e radio FM.

2. Dispôr de um telemóvel à cabeceira.

3. Dispôr de um outro telemóvel à cabeceira.

4. Ter o primeiro disposto a despertar com intervalos de 5 minutos.

5. Ter o segundo disposto a despertar também com intervalos de 5 minutos (com 2m30s de diferença horária para alternar com o primeiro disposto).

6. Sintonizar a Rádio Comercial, dando especial importância ao decibel. (Não é permitido revelá-lo publicamente mas garanto que o Parque da Bela Vista já ouviu similares)

7. Deixar passar 50 minutos. É tiro e queda.

Testemunhas oculares relatam que, no decorrer desta última fase do processo, têm alucinações durante a ducha, pois crêem veemente que Nuno Markl lhes está dentro da cabeça. Ele, o Sport Billy, um vinyl  da Cândida Branca Flor e às vezes o Alf. Alguns destes personagens chegam a provocar efeitos secundários durante o dia. "Senti que estava a tomar banho comigo, mais o Palmeirim, a Vanda Miranda e o Pedro Ribeiro. Éramos demasiados na banheira!"

Danos colaterais postos de lado, certo é que a estratégia funciona. Ou funcionava. Pois que como tudo o que é bom acaba, isto era bom mas acabou-se. E tudo com uma simples visita... do vizinho do lado.
Anos de estudo e aparece o vizinho do lado. Olheirento.

"Não queria incomodar mas... o seu despertador... fica a tocar durante muito tempo... e muito alto..."

Pausa para tradução: Tenho o Palmeirim, a Vanda Miranda e o Alf na minha cama todas as manhãs. Somos demasiados e não há espaço para tantos.

"Aos dias de semana ainda vá... acordo um bocadinho mais cedo. Mas ao fim-de-semana..."

Pausa para tradução: Ao fim-de-semana já não são tantos na minha cama mas ainda assim, não cabem.
Considerando o pobre vizinho, todos estes anos de trabalho acabam por ir ralo abaixo. O volume de todos os equipamentos passou a estar consideravelmente mais baixo e é obvio que que esta alteração se reflecte com alguma gravidade no quotidiano da pobre. Transtornos vários, até.
Tudo isto para deixar claro a Cristina Barata (nome fictício), que a culpa dos seus mais recentes atrasos não é propriamente sua. É do vizinho... claramente do vizinho. :)